Cidades
Souks de Marraquexe: o que deve saber
Dos jardins e palácios reais aos riads, a cidade vermelha oferece encantos sem fim. Mas nenhuma visita fica completa sem um mergulho nos souks. E “mergulho” é mesmo a expressão adequada a esta experiência de imersão total. Aliás, para alguns turistas, o turbilhão de emoções pode até revelar-se avassalador. Por isso, respire fundo, relaxe e deixe que o guiemos nesta intensa viagem para os sentidos.
Regatear!

Esta é a palavra que se lê com mais frequência em relação ao souks. "É obrigatório regatear", é uma "ofensa ao vendedor" não regatear, etc., etc. Vamos já tranquilizar os mais ansiosos: ninguém é obrigado a fazê-lo. Sim, é verdade que discutir preços é uma interação social culturalmente importante em Marrocos e, antes de mais, uma forma simpática de estabelecer e manter laços entre vendedores e clientes, mas caso a mera noção de tentar depreciar um objeto que lhe agrade seja paralisante, não o faça. Se o valor pedido lhe parecer justo, compre. Ninguém pensará menos de si por isso. Caso decida embarcar no jogo, tenha apenas em mente que este não é um ato de hostilidade: seja sempre cordial, bem-educado e mantenha um sorriso nos lábios. É muito provável que do outro lado do balcão esteja alguém disposto a retribuir-lhe a cortesia. Além de que uma visita aos souks não é o equivalente a uma tarde no centro comercial, embora a limpeza das suas ruelas (ponto de honra entre os comerciantes) o possa dar a entender.
Uma viagem pelos sentidos

Vimos aqui igualmente pelos inusitados aromas, pela infinita paleta cores, pelas excecionais texturas, pelos requintados padrões e pela simpatia, afabilidade e curiosidade das pessoas. Se não domina o árabe mas caso se safe no francês, esteja à vontade para puxar conversa. E diga de onde vem: não obstante uma história comum com momentos conturbados, os portugueses gozam de boa reputação em Marrocos e os marroquinos têm algum orgulho em descobrir afinidades connosco. Deambule e solte o fotógrafo que há em si captando os delicados pormenores de umas babouches ou de uns kaftans ou retratando os coloridos pratos de louça (que fazem lembrar os padrões das artes decorativas alentejanas), as montanhas de grãos ou as formas sonhadoras dos candelabros de vidro e ferro. Prove tâmaras, figos e amêndoas. Beba um chá de menta. Compre uma espetada a um vendedor ambulante. Mas, sim, se quiser levar daqui prendas para a família inteira, desde que seja razoável, deve esperar uma atenção na conta!

Por onde ir?

A zona dos souks de Marraquexe estende-se para norte da Praça Jemaa El Fna, que é uma espécie de pré-souk com a sua multidão de vendedores e aromas a especiarias e comida acabada de fazer pelo ar. Embora os souks tenham nomes diferentes que identificam genericamente os produtos que neles se podem encontrar, lembre-se que as suas fronteiras são flutuantes. É um pouco como a antiga baixa lisboeta, com as suas ruas do Ouro, da Prata, dos Fanqueiros, dos Correeiros, etc. É verdade que aqui não tem tabuletas, nem nomes de ruas propriamente ditos, mas não acredite no mito que de que pode perder-se durante horas. Embora uma ligeira desorientação seja sempre bem-vinda, em caso de confusão peça indicações a um vendedor ou a um polícia ou volte a uma das vias mais largas e percorra-a até ao fim. Aproveite para ir repondo energias com os produtos dos mestres pasteleiros que encontrará pelo caminho!

O que comprar?

Para os ocidentais é cada vez mais raro ver artífices e artesãos a produzirem os seus próprios produtos. Uma visita aos souks é também valiosa por essa mesma razão: das centenas de artistas (pois merecem esse nome) que aqui trabalham diariamente, muitos são herdeiros de tradições familiares de há séculos. Por isso, mais do que adquirir souvenirs, esta é uma oportunidade de ver e apoiar quem trabalha em mesteres e ofícios que estão ameaçados de morte nas sociedades mais industrializadas e globalizadas. Nesta perspetiva, o souk Semmarine, que é basicamente a via de acesso principal a este emaranhado de mercados, não é bem o local ideal para encontrar algo de verdadeiramente extraordinário. De facto, reúnem-se aqui muitos vendedores de lembranças e empórios para turistas, razão pela qual a maioria dos visitantes estrangeiros dos souks sente que nem precisa de se aventurar muito mais. No entanto, os têxteis aqui comercializados são de altíssima qualidade. Ou seja, se procura pashminas para oferecer às amigas neste Natal, pode ficar já por aqui.
Perfumes, cores e preciosidades

Mas esta rua, que tem um arco no seu início, a certo ponto bifurca, e à sua esquerda encontra o souk El Attarine, dedicado às especiarias e aos perfumes (já agora, se estiver em busca do fenomenal óleo de argão local, lembre-se que o mais escuro é utilizado para temperar comida e que o amarelo é que é o indicado para cosmética), e à sua direita fica o souk Smata, também conhecido como o souk des babouches, onde irá deparar com um sem-fim de cores e efeitos para estes peculiares chinelos de pele que, conforme a sola, podem ser utilizados no interior ou no exterior. Já agora, se procura malas, cintos, carteiras e outros artigos confecionados em pele, rume aos souk El Kebir e Cherratine, um pequeno paraíso para os apreciadores de curtumes. Na pequena rua dos joalheiros tem muitas preciosidades em ouro, prata, etc., à sua espera e nas kissarias (souks cobertos) há roupa para experimentar e venda de tecido a metro.
Arte, ritmos e sons

Os souks Chouai e Haddadine costumam ter menos turistas devido aos seus produtos menos portáteis (respetivamente carpintaria e objetos de ferro) mas merecem uma visita, nem que seja para apreciar o ritmo compassado do martelar dos ferreiros. Se chegar a uma pequena praça com dobadas de lã e tecidos de seda coloridos a secar em cordas ao sol, saiba que atingiu o coração do souk Sebbaghine (ou des Teinturiers, isto é, dos tintureiros). Mas se a sua paixão é a música, ou se ficou inspirado por uma atuação de um maâlem da tradição Gnaoua, uma das formas musicais mais expressivas e espirituais do norte de África, rume ao souk Kimakhine para comprar uns qraqeb (castanholas de metal), um tbal (tambor) ou um guembri (instrumento de três cordas da família do alaúde).

Para finalizar, lembre-se que os souks abrem de madrugada e que só fecham por volta das nove da noite. Nos meses de muito calor procure visitá-los de manhã ou ao final da tarde, o que também lhe permitirá evitar as multidões. E, agora, parta à descoberta!